Líder da Assembleia de Deus em Mossoró (RN), o pastor Francisco Miranda disse durante sua pregação em um culto recente celebrado em sua igreja que o local está cheio de petistas; recomendou a esses fiéis procurar outra igreja.
“Tem muita coisa que dá pra gente se
envergonhar (…) o que tem envergonhado, não é pouca gente não, o que tem de
petista no meio da igreja evangélica nos dias atuais não está escrito nos
jornais (…) Procure uma igreja petista, essa aqui não é petista, nem
bolsonarista”, declarou o pastor. A pregação foi
realizada no segundo dia do evento intitulado “Escola Bíblica para Obreiros do
Oeste do Rio Grande do Norte”.
O vídeo com o discurso
do pastor Francisco Miranda viralizou nas mídias sociais e ganhou notoriedade para muito além da imprensa local.
Não é necessário muito esforço para entender a atitude anticonformista do líder assembleiano. Jair
Bolsonaro (PL) obteve amplo apoio dos evangélicos nos últimos anos,
impulsionado pelas pautas de caráter moral e de usos e costumes que fizeram
parte do discurso do presidente antes mesmo de se eleger em 2018. Na
campanha presidencial deste ano vários líderes evangélicos conhecidos no país
declararam apoio público a Bolsonaro.
É notável que a maior parte do eleitorado evangélico apoiou o líder da
direita no Brasil, mas também não passou despercebido que a parcela dos
evangélicos declaradamente lulista rachou igrejas em todas as regiões.
Reportagens na grande imprensa noticiavam que muitas pessoas tiveram que mudar
de igreja, sob a acusação de serem falsos crentes ou 'apóstatas' por declararem
voto em Luís Inácio Lula da Silva (PT), principal representante da
esquerda.
Esses
desentendimentos dentro das igrejas evidenciam um conflito entre duas
cosmovisões que também habitam os arraiais religiosos: o conservadorismo e o
progressismo. O primeiro aspecto é mais presente na maior parte do segmento
histórico e ortodoxo do protestantismo e do evangelicalismo, que é, por
exemplo, contrário ao casamento gay, à legalização do aborto e das drogas,
pautas tão características da esquerda e do
progressismo e frutos do compromisso com o naturalismo e com o relativismo
moral. Em igrejas as bandeiras progressistas são abraçadas pelos
segmentos da teologia liberal e em parte pelo cristianismo popular, marcado não
pela erudição, mas pelo experimentalismo.
Uma terceira tendência surgida no evangelicalismo durante a pandemia da
Covid 19, e que cresceu por ocasião da campanha eleitoral para presidente,
defendia o voto nulo ou em branco, por entender que, apesar do voto em Lula ser
inadequado a um cristão, o voto em Bolsonaro também era contrário aos
princípios do evangelho em razão dos destemperos e do comportamento
irresponsável - e até criminoso - do presidente, durante a crise sanitária.
O fato é que a disputa entre Lula e Bolsonaro pelos votos de parcelas religiosas da população brasileira, assim como dividiu o país, também rachou famílias, relacionamentos e igrejas. Juntar os cacos será desafio monumental e talvez até inatingível, já que as tensões, por ora, parecem não dar indicação de término ou mesmo trégua.
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