quinta-feira, 20 de julho de 2023

Lula reforça equipe para não cometer erros com improvisos em discursos

Depois de ter pronunciado um discurso que gerou polêmica por uma fala improvisada  em Cabo Verde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu reforçar a sua equipe responsável pela preparação de seus discursos. O objetivo é evitar outras derrapadas e garantir uma comunicação mais ajustada que não forneça munição para a oposição, e até evite desapontamento de apoiadores. 

O fato é que a língua com vida própria de Lula serve de alimento aos opositores há muito tempo. Não foram poucos os momentos em seus dois primeiros mandatos de presidente em que o petista falou absurdos ou fez gracejos inadequados a um estadista, ou mesmo protagonizou momentos em que deixou de ser um exemplo de educação. E ele parecia não se importar com isso; era como se as gafes o aproximassem mais do povo e o tornassem mais popular. Talvez por isso havia a impressão de que Lula fazia questão de falar bobagens em momentos formais. 

O problema agora é que gafes, asneiras e estupendos atos ou falas ignorantes são amplificados de modos inesperados na era das redes sociais, principalmente se os gestos vem de alguém de quem se espera respeito pela liturgia do cargo. Boçalidades de líderes políticos são mais "imperdoáveis" nos tempos atuais, e causam enormes desgastes ao governo e à própria imagem do presidente em relação à opinião pública, uma lição que o próprio Bolsonaro se recusou a aprender durante seu mandato, principalmente durante a pandemia, o que lhe rendeu significativos prejuízos políticos com efeitos que reverberam até o momento.   

Lula afirmou durante sua visita a Cabo Verde, na quarta-feira (19), ao lado do presidente José Maria Neves, que o auxílio a países africanos seria uma forma de "pagamento" pelo período em que africanos foram escravizados no Brasil.

"Nós temos uma profunda gratidão ao continente africano por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país", disse Lula na ocasião. 

O erro desse trecho do discurso é: não há motivos de gratidão pela prática do escravismo. A escravidão é um dos crimes mais terríveis, um pecado medonho, mesmo quando a prática era permitida por lei em qualquer lugar ou época histórica. Mesmo quando a escravidão era legal, sempre foi moralmente condenável por razões que deveriam ser óbvias. Só há motivos para lamentar. E a fala não programada de Lula foi lamentável. Apesar dos esforços dos aliados para tentar explicar o que o presidente quis dizer, o estrago já estava feito.

Para melhorar a comunicação do presidente, a equipe de três auxiliares será reforçada com a chegada de Cristina Charão, que já trabalhou na assessoria da primeira-dama Janja. E mais um profissional deverá reforçar a equipe para dar suporte aos discursos e pronunciamentos do presidente.

Vale ressaltar que houve um momento positivo no discurso de Lula. Ele disse: "Quero recuperar a relação com o continente africano, porque nós brasileiros somos formados pelo povo africano, a nossa cultura, nossa cor, nosso tamanho é resultado da miscigenação entre índios, negros e europeus". É verdade mas, apenas para registrar, é também verdadeiro que parte da miscigenação brasileira foi fruto de estupros de escravas africanas; isso, é claro, não precisa ser mencionado em um discurso como o do encontro em Cabo Verde.

De acordo com Lula, o país possui uma dívida histórica com o continente africano por conta da escravidão. Para ele, o investimento em tecnologia, formação e ajuda na industrialização e no setor agrícola são uma "forma de pagamento" dessa reparação (sic) histórica (deveria ter dito "forma de pagamento dessa dívida histórica"). 

Quando Lula não improvisa, fala com mais clareza. Que ele seja mais discreto e menos intuitivo. Que a lição seja aprendida em definitivo. Não é bom que o líder de uma nação seja marcado por constantes gafes e asneiras ao falar em público, uma característica presente nos três últimos presidentes que governaram o Brasil.

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