domingo, 1 de janeiro de 2023

Bolsonaro pode ter tomado vacina contra a Covid-19, o que disse que nunca faria

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou a aliados que pretende acionar a Justiça contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governo em caso de derrubada de um de seus sigilos. É o que ficou claro em uma conversa que teve em um grupo de WhatsApp. Após o atual presidente Lula assinar decreto que autoriza a análise para a revogação de sigilos indevidos, Bolsonaro comentou no grupo que recorrerá ao STF (Supremo Tribunal Federal).

O portal Último Segundo teve acesso ao conteúdo da troca de mensagens; elas parecem indicar que a preocupação de Bolsonaro não se refere a quebra de todos os sigilos. O ex-presidente avisou a pessoas próximas que não aceitará de cabeça baixa caso um de seus decretos forem revogados e informações íntimas vazarem tornando-se públicas.

Um senador do PL que é membro do grupo de WhatsApp contou ao portal de notícias que o receio de Bolsonaro é com uma possível liberação do conteúdo de sua caderneta de vacinação. "No grupo do PL, o presidente avisou que não vai aceitar liberarem o conteúdo de sua caderneta de vacinação", disse.  

Último Segundo perguntou então ao senador se Bolsonaro tomou a vacina contra a Covid-19, e se este é o medo dele, ao que o parlamentar respondeu não saber. "Ninguém sabe, acho que nem os filhos dele, mas em Brasília os comentários é que ele tomou", conta. 

Membros do PL acreditam, no entanto, que o ex-presidente deve ter tomado a vacina e quer esconder a informação de seus seguidores. 

O assunto deve crescer em repercussão e gerar mais curiosidade. Afinal, Bolsonaro tomou ou não a vacina contra Covid-19? A resposta ao questionamento, porém, não deverá chegar nos próximos dias. O decreto de Lula prevê que haverá uma avaliação de 30 dias pelos órgãos responsáveis. E somente no final de janeiro será apresentado um relatório sobre quais temas foram colocados sigilo de forma irregular e só então haverá a revogação.


Comento

Se é verdadeiro o temor de Bolsonaro do vazamento de informações de sua caderneta de vacinação, qual a razão disso? Uma breve retrospectiva talvez nos ajude a entender. Chegou a ser noticiado na imprensa que Bolsonaro teria providenciado a vacinação de sua mãe. O cartão de vacinação de dona Olinda Bonturi Bolsonaro mostra que ela foi imunizada contra a Covid-19 em 12 de fevereiro de 2021, com a vacina CoronaVac, justamente a mais combatida pelo ex-presidente por ser produzida na China. Seis dias depois, em uma live, Bolsonaro disse que a sua mãe tomou o imunizante sim, não o chinês, mas o de Oxford, fornecido pela Fiocruz.

Caso viesse a tona a confirmação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro de fato tomou a vacina contra a Covid-19, seria um escândalo de grandes proporções. É que são conhecidos os reiterados posicionamentos públicos do político contra a vacina. Relembremos algumas de suas falas.


Declarações de Bolsonaro contra a vacina

Em 15 de dezembro de 2020 ele declarou que não iria tomar a vacina:

"Como sempre, eu nunca fugi da verdade. Eu te digo: eu não vou tomar a vacina e ponto final. Se alguém acha que a minha vida está em risco, o problema é meu. E ponto final".

17.dez.2020  “Se você virar um jacaré, problema de você. Se você virar super-homem, se nascer barba em alguma mulher aí ou algum homem começar a falar fino, eles não vão ter nada a ver com isso. O que é pior: mexer no sistema imunológico das pessoas. Como é que você pode obrigar alguém a tomar uma vacina que não se completou a 3ª fase ainda, que está na experimental?”

19.dez.2020 – “A pressa da vacina não se justifica porque você mexe com a vida das pessoas, você vai inocular algo em você”. 

23.dez.2020 – “Eu tive a melhor vacina: o vírus”.

7.jan.2021 – “Vocês sabem quantos por cento da população vai tomar vacina? Pelo o que eu sei, menos da metade vai tomar”. 

11.fev.2021 – “Quando eu falei remédio lá atrás, levei pancada. Nego bateu em mim até não querer mais. Entrou na pilha da vacina. O cara que entra na pilha da vacina, só a vacina, é um idiota útil. Nós devemos ter várias opções”. 

9.jun.2021 – “E eu pergunto: a vacina tem comprovação científica ou está em estado experimental ainda? Está [em estado] experimental. Nunca vi ninguém morrer por tomar hidroxicloroquina, em especial na região amazônica”. 

17.jun.2021 – “Eu estou vacinado entre aspas. Todos que contraíram o vírus estão vacinados, até de forma mais eficaz que a própria vacina, porque você pegou vírus para valer. Quem pegou o vírus está imunizado, não se discute”. 

E mais uma vez, em 8 de dezembro de 2021, ele disse que não se vacinou e não iria se vacinar:

“Da minha parte, eu não tomei vacina e não vou tomar vacina. É um direito meu e de quem não quer tomar. Até porque os efeitos colaterais e adversos são enormes”.


Declarações de Bolsonaro contra a CoronaVac 

30.jul.2020 – “Entramos naquele consórcio de Oxford, e pelo que tudo indica [a vacina] vai dar certo. Cem milhões de unidades chegarão para nós. Não é daquele outro país, não” (uma ironia do presidente em relação às vacinas produzidas pela China).

21.out.2020 – “Alerto que não compraremos vacina da China. Bem como meu governo não mantém diálogo com João Doria sobre covid-19″. 

22.out.2020 – “Nós não compraremos. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população”. 

10.nov.2020 – “Morte, invalidez e anomalia… Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos a tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”. 

12.nov.2020 – “Pode ser o efeito colateral da vacina também. Tudo pode ser. Não sei se já chegaram à conclusão, mas esclarece e volta a pesquisar a vacina, a CoronaVac, da China” (declaração do presidente sobre o suicídio de um voluntário nos testes da vacina chinesa). 

25.dez.2020 – “A eficácia daquela vacina em São Paulo parece que está lá embaixo, né?” 

13.jan.2021 – “Essa de 50% é uma boa ou não?” (uma ironia do presidente sobre o percentual de eficácia da CoronaVac. O objetivo foi desacreditá-la).

24.jun.2021 – “Vocês estão vendo que essa vacina, a CoronaVac, está com problemas em alguns países do mundo, como por exemplo Chile, entre outros. No Brasil, não está sendo diferente”. 

24.jul.2021 – “Agora eu pergunto para vocês: qual país do mundo faz acompanhamento de quem tomou vacina? Tem gente sofrendo efeito colateral e o que está acontecendo? CoronaVac ainda é experimental e tem gente que quer torná-la obrigatória”. 

4.ago.2021 – “Eu vou tomar vacina que possa entrar no mundo todo, não posso tomar a vacina lá de São Paulo, que não está aceita na Europa nem nos Estados Unidos. Tenho que tomar a específica aceita no mundo todo”. 

1º.set.2021 – “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”. 

2.set.2021 – “Eu não sei se fui contaminado [de novo] ou não no passado. Falei que meu IgG está 991. Eu estou muito bem, melhor que o pessoal que tomou CoronaVac. Melhor não. Muito melhor. O que aconteceu comigo? Não sei”. 

21.set.2021 – “O que acontece? Você toma vacina para quê? Para ter anticorpos. Não é isso? A minha taxa de anticorpos está lá em cima. […] Estou bem; vou tomar a vacina, a CoronaVac, por exemplo, que não vai chegar a essa efetividade? Para que eu vou tomar? Todo mundo já tomou vacina no Brasil? Depois que todo mundo tomar vou decidir meu futuro aí”. 


Para finalizar

Entre os anos de 2020 e 2022, Jair Bolsonaro fez dezenas de outras declarações contra a obrigatoriedade da vacinação, compra de vacinas e imunização de crianças, mas é desnecessário reproduzi-las aqui. 

Seria, no mínimo, um absurdo Bolsonaro ter feito o que sempre negou que iria fazer: tomar a vacina enquanto estimulava a população a fazer o oposto. Como explicar tal conduta? A hipótese da loucura seria suficiente para a nossa compreensão? Ou haveria maior interesse na comercialização da cloroquina? Caso, em futuro próximo, seja confirmada a decisão de Bolsonaro de se imunizar e esconder a informação, restaria saber se essa postura não caracteriza crime (parece ser o caso). Aguardemos as respostas.

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